domingo, 29 de agosto de 2010

Tão, tão sutil...

A cada manhã de verão
Quando se acorda com o sol na janela
Ou mesmo no inverno
Quando há diversas cobertas quentes
Mas a neve branca cobre tudo lá fora
Mesmo quando tudo parece a caminho do equilíbrio
Mesmo quando poderia estar tudo bem
Para ele não estava, há tempos já não estava

Escondido atrás de tanto potencial
Atrás de sorrisos cordiais e seu ar divertido
Acreditando no bem maior de cada ser
Amando a todos por já não ter a quem amar
Por eles terem sido arrancados um a um
Escorregando de seus longos dedos
E no fundo, ele sempre soube, por sua própria culpa
                                                     
Toda sua ganância abnegada
Escondida, por tanta vergonha
Nós percebemos, nos pequenos detalhes, senhor
Percebemos ter sucumbido
Essa marca em seu rosto quase deixa tudo claro
Sua presença tão forte
Seu corpo tão velho
Suas lembranças tão tristes
Seu coração tão ferido
Seu amor tão...

Não se culpe tanto,
Eu gostaria de poder ter lhe dito isso
O senhor foi bom
E apesar de saber que toda sua bondade 
Não foi o suficiente para compensar sua dor
Não se culpe tanto
Ninguém é perfeito, nem mesmo o senhor
E cá entre nós
Isso é grande coisa

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Ansiedade?

Bolhas

Piscou uma ou duas vezes, com dificuldade, pois seus olhos ardiam muito. Seus movimentos eram lentos, e sentia-se, pouco a pouco, sufocar. Concentrou-se. Sabia que podia reverter aquilo. À medida que o oxigênio lhe faltava, seus pensamentos pareciam ficar mais e mais densos, como todo o azul que lhe rodeava. Mexeu-se, bolhas se formaram, pequenos seres coloridos se moveram.  Cada detalhe lhe parecia importante, então decidiu observar:
Duas pedras pequenas e polidas, cobertas de musgo, algumas algas verdes, de uma textura diferente; esponjas, corais, pedras, um amontoado de cores, alguns poucos peixes passando sozinhos e, a uns palmos, um monte deles, num cardume pontilhado de prateado.
Ao longe, sombras; acima, raios de sol, muito, muito distantes; abaixo, apenas areia, ora macia, ora áspera, ora rocha, além daquelas pequenas plantinhas - ou, sabe-se lá, seriam daqueles seres de nomes confusos? Amaldiçoou-se por não saber ao certo.
Olhava e sentia-se parte daquilo; estranhamente, percebeu, já não precisava de ar ou do sol lá de cima, e seus olhos ardidos já não incomodavam. Tentou mexer-se, mas desta vez não conseguiu; suas roupas pesadas o impediam, como seus sapatos, como seus bolsos cheios que lhe fizeram afundar tão rápido. Olhou seus dedos, murchos, e estendeu-os alguns centímetros adiante. Alguns segundos, e quando já nem distinguia a temperatura, rumou decidido, deixou pra trás seu corpo e foi se juntar aos outros peixes.
Respirar, mover-se - agora tudo era bolhas. 

sábado, 14 de agosto de 2010


Tantas vezes eu desejei poder estar na minha praia deserta, apenas estar. Tão deserta, sem nem mesmo insetos ou pássaros distantes, só com pequenos peixes e conchas no meu oceano transparente. Eu queria estar sob o sol forte sem sentir minha pele arder, queria olhar ao redor e ver apenas a sombra das árvores. Queria ouvir as plantas crescendo sob a terra. Queria um pouco dessa solidão quente. 

Mas, felizmente, eu não tenho. Não estou sozinha, e agradeço por meus pedidos não terem sido atendidos. Eu não estou sozinha, não estou sozinha, há alguém aqui comigo. E eu estou feliz por isso. Eu estou feliz. 

Minhas Incoerências

Tantas vezes eu já disse que seria diferente. Incontáveis vezes eu já disse 'dessa vez não vai ser como antes. Dessa vez eu consigo'. E eu sigo dizendo, sigo repetindo a mesma coisa de novo e de novo, e às vezes até acrescento: 'e agora é definitivo'. Mas nunca é. Eu sempre repito meus erros, sempre faço as coisas que mais desprezo em mim. E quando não faço, é como se tivesse feito, porque as pessoas parecem nem ligar.
Mas isso é por mim, eu repito.
Mas e todas as outras vezes que tu não te importou contigo? E todas as outras vezes que fazer o que era aceitável foi mais importante? O que foi por ti nesse caso?
Foda-se, da próxima vez vai ser diferente.